segunda-feira, 6 de julho de 2015

UM ANO DE SETEVIDAS

Em comemoração a um ano de lançamento de SETEVIDAS, Pitty se apresenta em São Paulo, agregando e agradando distintas tribos, deixando claro porque está entre os maiores nomes da música.

Com ingressos quase esgotados, às dez horas (doze antes de abrir os portões da casa)  se formava uma fila em frente a AudioClub num sábado frio e nublado. Na Internet, a ansiedade do público era enorme. Pessoas vinham de outros Estados para fazer parte desse show que foi transmitido pelo Multishow (TV e site), fazendo com que o assunto #PittyNoMultishow chegasse ao Trending Topic mundial!

Prestando um ótimo serviço, a equipe da casa estava preparada e às 23hrs já tinham dado conta da fila, mas ainda havia muita gente chegando. Pista e camarotes lotados, Pitty se apresentou com um feito ao meu ver, quase anacrônico: a maioria das pessoas ali estavam mais interessadas em apreciar o espetáculo do que registrar. Flashs de celulares eram mais perceptíveis nas baladas que estavam na ponta da língua de todos (como Equalize e Na Sua Estante). Na mesma semana em que atingiu 20 milhões de acessos no YouTube, Me Adora provou ser (mesmo depois de seis anos) um dos maiores sucesso da banda. O público dançava e cantava como se estivessem numa festa, hora em que as rodas de phogo - que por pouco não se torna literal em músicas como Memórias, Anacrônico e Máscara -  se tornavam roda de pessoas abraçadas e alegres, assim como aconteceu em Serpente que é mais "ritualizada" a cada apresentação. Pessoas se entregam muito especificamente nessa música, como se o recomeço começasse ali mesmo.


A surpresa da noite ficou por conta de Só Agora, música intimista do álbum Chiaroscuro que vez ou outra aparece no repertório e agora executada apenas pela Pitty com sua guitarra. A Massa e Pequena Morte - que contou com uma introdução deliciosa do disco atual também foram comemoradas pelos fãs. Em meio as músicas houve versões de Ando Meio Desligado (Mutantes) e Bom Senso (Tim Maia). Outro ponto alto da noite foi ver a primeira estrofe de Um Leão sendo recitada pela cantora e compositora, música que ganhou recentemente um clipe que era exibido no cenário enquanto a banda tocava a música ao vivo.

Apesar das surpresas, fãs da banda esperavam algo a mais e apostavam em músicas como Lado De Lá (ainda não executada ao vivo), Pouco e a inédita Na Pele. Nessa noite foi apresentado um repertório bem comum para os que já foram em mais de cinco shows dessa turnê mas bem diferente daqueles que só viram shows abertos como Virada Cultural e aniversários de Cidades. Pitty tinha se apresentado na AudioClub pela primeira vez em agosto do ano passado e dessa vez já se mostrou em casa, assim como os fãs que não hesitavam em abrir rodas e dar mosh!



Pitty vem tendo uma relação surpreendente (tanto com a banda quanto com o público), comunicando-se com olhares. Com o visual inspirado "em Mad Max, Amazonas, Mulheres Guerreiras" e outros, mostrou que seu show está, como já disse em entrevista à Folha "entre Ivete Sangalo e Ratos de Porão". Pode-se ver várias tribos em um mesmo lugar. Desde aqueles que se espremem para ficar na beira do palco e assistir de pertinho, passando pelas rodas, bate-cabeça e afins, tem os casais, famílias, adolescentes, senhoras e aqueles que ficam encostados no balcão do bar.O repertório foi baseado em seu novo disco, oito de suas dez músicas novas como Deixa Ela Entrar e Boca Aberta  intercaladas com sucessos antigos como Teto De Vidro e Admirável Chip Novo.

Em alguns dos poucos mas emocionantes diálogos, Pitty desabafou e agradeceu a todos que estavam ali, logo depois de sensualizar com Pequena Morte (que entrou na trilha sonora da novela Verdades Secretas - Rede Globo).

- Como é que vocês estão aí? Tudo certo?
O público respondeu com gritos e toda aquela energia do Rock.
- Que massa! muito feliz de estar aqui hoje. Eu tava falando com os meninos antes da gente entrar no palco, a gente sempre se reúne e faz uma "macumbinha" ali e hoje eu falei pra eles: eu achava que tava bom e eu descobri que podia ser melhor. Eu nunca fui tão feliz no palco como hoje em dia, e eu achei que já tinha experimentado isso. Isso tem muito a ver com esses caras aqui (mostrando os meninos de sua banda), isso tem muito a ver com as pessoas todas que estão trabalhando e tem a ver com vocês também. A gente se encontrou numa nova fase e eu acho que a gente se entende muito melhor hoje em dia. Obrigada por terem vindo, viu? Tô me despedindo não, ainda tem mais som aqui, pera aê!

Sem medo de mudar, a banda está com um novo arranjo para cada música, Duda que está desde o começo com Pitty não poupa forças (nem baquetas! haha), Martin não mede esforços para fazer sua guitarra gritar, chorar e apavorar, trabalhando com vários pedais (e ainda consegue ser lindo, aff...), Guilherme que nem parece que entrou há um ano para o time também se entrega (depois da uma sacada na facilidade e emoção do cara...), e Paulo Kishimoto reveza teclado com percussão (preste atenção na performance também). Pitty brinca com efeitos em sua voz e se entrega nas interpretações. O painel LED atrás da banda só aumenta a a onda para a viagem coletiva.


Antes de tocar seu primeiro hit, Máscara, Pitty da o recado "De volta aquela menina que escreveu essa música ha quase doze anos atrás, as palavras eram de uma menina daquela idade mas a ideia é a mesma. Que a gente possa viver em paz e igual, todos. É um clichê? É! Mas nessa época é tão importante a gente conseguir falar disso e é tão importante olhar aqui e ver todo mundo misturado. Homem, mulher, preto, branco, gay, hétero. Todo mundo aqui vivendo junto, em paz" e ainda reforça com uma sacada de mestre, gritando o refrão de Tim Maia "Mas lendo atingi o bom senso / Mas lendo atingi o bom senso / A imunização racional".

O público não só assiste ao show, mas também participa, seja em côros de "Dudelícia" brincadeira e elogio ao baterista da banda, Duda, "Seu Mestre" pedido de música Lado B ou apenas aplaudindo e gritando "Pitty! Pitty! Pitty!"; seja em surpresas como várias placas de "Oh" e as bexigas em Serpente. Antes de tocar a última música, a cantora confirmou a presença forte do público "vocês representaram tanto que eu não sei se eu cantei direito porque eu não ouvi minha voz nunca. Foi massa! (...) o que vale é o momento e o momento foi especial aqui pra mim".

Em sua melhor fase, Pitty (em cerca de 1 hora e 40 minutos num sábado frio e chuvoso em São Paulo) mostrou mais uma vez porque é um dos maiores nomes da música brasileira, se reinventando a cada disco e despertando um turbilhão de emoções por onde quer que passe. Ao final do show ela ficou ali, parada no palco, sem gesto ou palavra alguma, expressou tudo que sentia em alguns segundos simplesmente observando o público, com os olhos lacrimejando, como se quisesse olhar dentro dos olhos de cada uma das três mil pessoas que estavam presentes, como se nada mais no mundo importasse ou existisse. Deu uma suspirada, mandou um beijo e saiu do palco como se não acreditasse que aquela noite tivesse acontecido. É praticamente impossível você assistir e não tentar decifrar o que se passa pela cabeça da libriana.

Para nossa sorte o show foi gravado e já tem várias reproduções no YouTube e quem sabe isso não vira um DVD? (shiu, ninguém falou nada!)

Como disse Titi, "Bicha! a senhora é destruidora mesmo, viu?"

SETLIST
01. SETEVIDAS
02. Anacrônico
03. Admirável Chip Novo
04. Semana Que Vem
05. Deixa Ela Entrar
06. Teto De Vidro
07. Memórias + Ando Meio Desligado (Mutantes)
08. Um Leão
09. Pulsos
10. A Massa
11. Só Agora
12. Olho Calmo
13. Boca Aberta
14. Pequena Morte
15. Me Adora
16. Equalize
17. Na Sua Estante
18. Máscara + Bom Senso (Tim Maia)
19. Serpente

Texto: Pc Guimarães

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